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BURNOUT – o “queimar por completo”



O Burnout surge quando as exigências de trabalho tendem a que a pessoa supere a sua capacidade de lidar com o stress. Todavia, enquanto o stress interfere sobretudo com a vida pessoal do indivíduo e não necessariamente na sua relação com o trabalho, o Burnout conduz a comportamentos negativos para com outros e para com o trabalho.

Profissões associadas aos cuidados a terceiros como a de Professor, Enfermeiro, Médico, Assistente Social, Polícia, entre outras, tendem a reportar maiores taxas de Burnout. Todavia, também é comum verificar-se em trabalhadores de call center, controladores aéreos, pilotos de aviação civil, gestores de topo de empresas, atletas profissionalizados. Ou seja, em funções onde é esperado que as pessoas atinjam objectivos exigentes, vivenciem sobrecarga de trabalho ou conflitos de papel, sejam mais controlados, possuam escassa participação na tomada de decisão, sintam mais dificuldades comunicacionais, se sintam menos recompensados, lidem directamente com o público e com características mais rudes de outras pessoas e/ou acumulem desencantos.

Para além dos factores organizacionais e da profissão, outros individuais poderão estar directamente relacionados com o Burnout, como é o caso dos ligados à demografia e à personalidade. Por exemplo, demograficamente os estudos vêm associando maior prevalência de esgotamento emocional em mulheres do que em homens, ao passo que estes apresentam maiores valores na despersonalização (distanciamento emocional relativamente a clientes e a colegas de trabalho) e na falta de realização no trabalho (sentimentos de incompetência, de baixa produtividade). No que se refere à personalidade tem-se verificado que quanto menor o grau de resiliência ou maior o nível de perfeccionismo e de rigidez ou sempre que o locus de controlo externo prevalece sobre o interno, maiores os níveis de Burnout.

Numa situação de Burnout a pessoa experiencia exaustão emocional, fadiga, despersonalização, falta de sentido de realização, alteração de hábitos, dificuldades de concentração, perda de autocontrolo, perda de motivação, sentimento de incompetência profissional e insegurança, oscilações na auto estima. Frequentemente, com a redução do entusiasmo e das expectativas em relação ao trabalho vão-se desenvolvendo sentimentos de culpa, mal-estar psicológico e manifestações físicas, com correlação significativa com depressão, ansiedade e até situações fóbicas.

A nível neurobiológico, quanto maior o nível de stress (ou quanto mais ampliada a amígdala – a estrutura cerebral relacionada com emoções negativas) mais enfraquecida fica a ligação entre regiões cerebrais. Igualmente, verificam-se fragilidades nas execuções funcionais relacionadas com o córtex pré-frontal médio, como seja o caso do desenvolvimento de pensamentos complexos ou de ações. Estudos de neuro imagem demonstram também que o funcionamento cognitivo de uma pessoa com Burnout tem semelhança proeminente ao do processo de envelhecimento. No âmbito do sistema endócrino, o cortisol (a “hormona do stress”) exerce efeitos no aparelho cardiovascular, na actividade imunitária e na função da memória.

Em suma, considerando-se o Burnout como uma síndroma psicossocial, acarreta disfunções sociais e organizacionais, com consequências sociais e económicas. Em termos genéricos aconselha-se mudança no estilo de vida, moderando-se a actividade. Mais concretamente, ainda que a etimologia da palavra remeta para “queimar” (burn) e “fora” (out), cabe ao próprio identificar, modificar e adaptar os factores stressores no trabalho às suas necessidades pessoais e profissionais, priorizar tarefas, não mencionar assuntos de trabalho em momentos de descontração. Para esta concretização ajuda o tratamento psicoterapêutico, com a introdução de técnicas de evidente enfoque no individual, no reconhecimento do próprio potencial, em lidar em conformidade com os pontos fortes e fracos, em não se ver como vítima das circunstâncias quando se sente inadequado ou incapaz de alcançar um sucesso, em visualizar metas atingíveis, em retomar a (auto)aceitação e a autoconfiança.

Alice Patrício, psicóloga @Psicomindcare


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