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Writer's pictureHelena Coelho

Quando você é o seu pior inimigo



Sim, você pode ser o seu maior inimigo, sem sequer se dar conta. Este inimigo é silencioso, vai-se instalando e acomodando no Eu, devagarinho, sem você se aperceber. Quando se manifesta, está já de tal forma enraizado que é extremamente desafiante da sua vida.

Paradoxalmente, este fenómeno começa por ser um mecanismo de proteção, com fuga da dor emocional e manutenção da auto-estima.

A pessoa desenvolve comportamentos de auto-sabotagem quando, de forma continuada, o nosso inconsciente nos “ludibria e convence”, através dos ganhos secundários associados à chamada “zona de conforto”, a evitar as situações que exigem controle dos comportamentos e gestão das emoções associadas aos ganhos imediatos.

Vejamos o seguinte exemplo:

A Sra. tem excesso de peso e afirma que desde sempre teve problemas com a comida. Já fez várias dietas, mas quando acaba a dieta recupera o peso todo. Quando tem mais peso, tem mais atenção no que come e esforça-se para fazer exercício físico, mas falta a esse compromisso recorrentemente. Diz-se preguiçosa e sente-se demasiado cansada ao fim do dia, para ir ao ginásio. Quando confrontada com os riscos que o excesso de peso envolve para a sua saúde, defende que “engorda com o ar” e que não faz nada que justifique estar assim. Afirma que conhece algumas pessoas magras que morreram de cancro ou de acidente, pois “para morrer, basta estar vivo”.

Então qual é a zona de conforto da Sra A. ou, dito de outra forma, onde há menos dispêndio de energia? Ir ao ginásio requer um esforço contínuo e uma compensação (prazer) a longo prazo. Por outro lado, alguns tipos de comida acentuam o reforço imediato através da sensação de “consolo” e bem-estar. Então, o “ganho secundário” de não ir ao ginásio ou comer alimentos que são saudáveis e que afirma “não gostar”, sobrepõe-se à racionalidade do saber o quão bem fará à sua saúde, instalando-se o ciclo vicioso de sabotagem.

Há ainda um movimento de fuga à depressão, potenciada pelo confronto com o insucesso e o fracasso por não conseguir emagrecer, quando banaliza a saúde vs motivos para morrer. Na verdade muitos estados depressivos estão, precisamente, associados a estes ciclos de sabotagem. Pessoas que sucessivamente tentam alterar os seus comportamentos auto-destrutivos, mas que acabam por a reincidir, entram muitas vezes em depressão.

Este é um exemplo de um ciclo vicioso de comportamentos auto-destrutivos. Eis outras situações:

  • anorexia e bulímia

  • abuso e dependência de substâncias ( álcool e substancias aditivas em geral)

  • vitimização e manipulação, com ganho secundário de atenção e afetos

  • comportamentos de risco (exemplo: condução agressiva ou descuidada, atividades de procura de “adrenalina”; sexo desprotegido com vários parceiros )

  • auto-lesão ou auto-mutilação – situação bastante grave

Em comum nestas situações a incapacidade de lidar com as emoções negativas, uma baixa tolerância à frustração e com necessidade de recompensas imediatas, de tal forma que se sobrepõem à vontade consciente de mudar.

O processo psicoterapêutico envolve, em primeiro lugar, reconhecer e aceitar os comportamentos de auto-sabotagem, para depois se estabelecerem metas e objetivos tangíveis e de investimento energético crescente e aceitável. É basilar e primordial resgatar o amor-próprio e desenvolver características associadas à inteligência emocional.


Helena Coelho, psicóloga clínica @Psicomindcare


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