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Xixi na cama - o que os pais podem fazer?



Fazer xixi, acidentalmente, na cama durante o sono (enurese noturna), é uma situação relativamente comum em crianças pequenas e não é, necessariamente, um sinal de alarme.

Cada criança tem o seu ritmo e há que respeitá-lo. Poderá ser necessária alguma atenção se existirem outros sintomas, se permanecer com o avançar da idade ou se surge com recorrência e após uma fase em que a criança já foi continente.

Para um melhor enquadramento do problema, importa distinguir entre enurese noturna primária e secundária. No primeiro caso a criança nunca chegou a controlar a urina durante a noite, enquanto que na enurese secundária a criança já conseguiu permanecer “seca”, por um período superior a 6 meses. Sendo situações distintas, há que compreendê-las de forma diferenciada.

No recém-nascido e bebés pequenos, a micção é uma função involuntária muito associada ao ato de mamar. Só a partir, sensivelmente, dos dois anos é que a criança começa a desenvolver a capacidade neurológica de controlar a urina. Colocar a criança no bacio antes dessa altura apenas a ajudará a desenvolver o hábito, ou seja, o comportamento de fazer xixi fora da fralda, mas não garante uma desabituação mais rápida ou mais precoce. Pelo contrário, se houver muita ansiedade ou pressão dos pais para antecipar o controlo da urina pode até ser contraproducente, uma vez que a criança pode desenvolver sentimentos de incompetência.

Sendo, regra geral, a continência diurna adquirida mais cedo do que a noturna, estima-se que cerca de 85% das crianças com mais de 5 anos já conseguem dormir à noite sem molhar a cama. Se o seu filho pertence ao grupo dos restantes 15%, não fique alarmada/o, regra geral a situação acaba por se resolver sem necessidade de intervenção, mas talvez seja útil expor a situação (sem medo de julgamentos e sem vergonha) ao seu pediatra, para que se possadespistar, eventuais, causas biológicas.

Se o seu filho já controlava a urina e sem razão aparente fica novamente incontinente, várias vezes na semana e de forma prolongada no tempo, para além de se recomendar o mesmo despiste médico, no sentido de validar se biologicamente tudo está bem, há que olhar para o problema numa perspetiva mais psicológica ou psicossocial.

Pense um pouco. O seu filho:

  • Foi recentemente para a escola ou jardim-de-infância?

  • Mudou de escola ou de turma?

  • Nasceu um irmão/irmã?

  • Um dos pais (ou familiar próximo) saiu de casa ou foi, por algum motivo, para longe?

  • A dinâmica familiar alterou, ou a família está a passar por um período de vida mais difícil?

  • Algum familiar ou pessoa significativa morreu?

Se a resposta a uma ou mais destas questões for sim, não é fatídico que algo se passe com o seu filho mas, também, não se pode descartar a hipótese de a causa ter uma base psicológica.

Os estudos apontam para uma associação elevada entre a enurese secundária e problemas emocionais, que podem ir desde dificuldades mais ligeiras e contextuais até à depressão ou estados ansiosos graves.

Então, o que pode fazer para ajudar o seu filho?

  • Em primeiro lugar, liberte-se de todos os pensamentos associados a vergonha ou sentimentos de culpa. Enquanto mãe/pai não terá feito nada de errado. Cada criança tem as suas particularidades e reage de forma diferenciada às mudanças de contexto e às contrariedades;

  • Evite evidenciar demasiada preocupação ou ansiedade em resolver o problema. É comum os pais dizerem ao jantar: “não podes beber água senão fazes xixi na cama”. Regra geral, o nosso cérebro “avisa” que é preciso ir à casa de banho e a criança acorda. Se beber menos líquidos vai urinar menos, mas não impede a micção involuntária durante a noite, em particular, nas situações de enurese secundária;

  • Não ralhe, não castigue e não permita que a criança de sinta humilhada. Durante a manhã, a pressa para ir para a escola e para o trabalho, combinada com a frustração ou sentimento de insucesso perante a evidência de mais dia em que o filho molha a cama, pode desencadear respostas mais agressivas por parte dos pais. Evite deixar-se levar pela reatividade e tenha presente que o seu filho não faz (conscientemente) de propósito ou para a/o aborrecer. Lembre-se que ninguém se sentirá pior do que ele;

  • Atue de forma positiva, especialmente e em dose reforçada, sempre que não haja incidentes noturnos. Não deixe de mostrar ao seu filho o quanto o ama, mesmo quando molha a cama e tente promover momentos em que a criança se sente confortável para falar do que sente, do que a estará a assustar ou a preocupar. Aceite e seja solidário, por muito menor que a situação lhe possa parecer. Evite fazer comparações com outras crianças, em particular com os irmãos. Isso só contribuirá para diminuir a sua autoestima e pode levar a que se sinta, ainda pior.

Na dúvida, procure um apoio especializado. Em situações de enurese secundária, um técnico de psicologia clínica poderá ser um bom aliado na resolução do problema.

Helena Coelho, Psicóloga na Psicomindcare, para Up To Kids®


imagem@tendenciademulher

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