Educar uma criança significa conduzir a criança, o que prossupõe uma relação entre um adulto, que sabe conduzir, e uma criança, que precisa de ser conduzida, de um patamar de saber insuficiente para um de conhecimento aumentado. Esta relação deve ser benéfica para a criança e não deve ser assente na crença de que o adulto conduz altivamente a criança e que esta se deixa conduzir passivamente.
Aprender tem origem na palavra apreender que implica o uso das mãos. Aprender vem de prender, isto é, de ligar, unir o que estava separado. Com as mãos se estabelece ligações afectuosas, o primeiro aprender que temos na vida veio do agarrar afectuoso das nossas mães.
As primeiras aprendizagens são feitas pelas interacções afectuosas entre a mãe e o seu bebé.
Para uma criança estar disponível para as aprendizagem escolares e para que possa ter sucesso, os saberes básicos tem de estar consolidados. Estes saberes assentam no diferenciar entre o que é presença e o que é a ausência; entre o bem-estar e o mal-estar; entre o feio o belo; entre o bom e o mau, entre o amor e o ódio, entre construir e destruir; entre verdade e mentira; entre liberdade e opressão; entre mulher e homem; entre pais e filhos; entre gratidão e inveja; entre o que causa mal-estar e o que causa alivio, entre outros.
Os saberes básicos transformam-se em aprenderes fundadores que devem ser feitos sempre através de interacções afectuosas, pois são saberes que provocam muitas angústias e se estas não forem contidas, em vez de estimularam o crescimento paralisam-no. Em vez de termos um aprender claro que promove o crescimento saudável das crianças temos um aprender confuso que vai comprometer o crescimento e o desenvolvimento saudável da criança. Esta vai ficar presa nesse nível onde surgiu a confusão.
Quando os aprenderes da vida ou aprenderes fundadores ficam bem consolidados, a criança está preparada para os aprenderes escolares. Se houver uma falha num aprender isso implica que houve falhas anteriores nas dimensões de acolhimento, suporte, contenção, organização e estimulação no processo educativo da criança.
Não podemos esquecer que existe uma ligação entre a saúde mental e a saúde pedagógica e aceitar que para aprender bem é preciso pensar bem, e para pensar bem é preciso estarem completos os aprenderes fundadores baseados em distinções de afetos.
Quando as confusões da criança diminuem, as angústias ficam suportáveis, a tristeza atenua-se, o pensar torna-se mais claro e eficaz, os aprenderes quer escolares quer os básicos, acontecem. A criança que consegue pensar bem aprende bem e o aprender bem leva a um pensar ainda melhor.
Segundo João dos Santos a educação deve inspirar-se numa pedagogia de relação. A escola se proporcionar um ambiente de pedagogia de relação poderá criar condições para desbloquear aprenderes fundadores que ficaram bloqueados. João dos Santos e os seus educadores acreditavam que quando criavam um ambiente de acolhimento em que a criança, desvalorizada e bloqueada, sentia que existia um interesse real por ela enquanto pessoa, fazia com que a criança se valorizasse aos seus próprios olhos centrando-se nas suas habilidades e capacidades atuais, e não nas suas dificuldades, insuficiências e insucessos. Este bom acolhimento permitia retomar a aprendizagem dos aprenderes fundadores que falharam ou ficaram bloqueados.
Uma pessoa só aprende quando encontra suporte e contenção suficiente e sobretudo se se sentiu estimulado. As crianças na escola precisam de encontrar professores que lhe ofereçam suporte, contenção e estimulação.
A escola deve ser vista pela criança como um local de aventura onde o professor é o guia.
A família e a primeira responsável pela consolidação dos aprenderes fundadores quando estes falham vai ser difícil para a criança aprender os saberes escolares. Por isso família e escola devem caminhar lado a lado.
Joana Duarte, psicóloga na Psicomindcare para @UptoKids