
Estas duas palavras são frequentemente utilizadas de forma indiferenciada, quando na verdade dizem respeito a conceitos totalmente diferentes.
Se a individualidade remete para a uma identidade própria, para aquilo que são os gostos, hábitos e características individuais, o individualismo pode ser considerado como uma individualidade negativa, ou seja, uma forma de ser e de estar nas relações de forma egocêntrica e que não respeita a individualidade do outro.
Nos relacionamentos, sejam eles amorosos, familiares ou de amizades é importante que cada um mantenha a sua individualidade mas, por vezes, é difícil não cair no individualismo. Instala-se o receio de, ao satisfazer os desejos do outro se perder a subjectividade.
Na vivência a dois, há que considerar cada individuo com um querer próprio e desejos que não podem ser anulados em função de um outro, sob pena de se tornarem pessoas dependentes. Há que aprender a encontrar pontos de convergência, que implicam cedências de ambos, no sentido da construção do “nós”, mas em que há “espaço” para cada pessoa e para a sua singularidade.
O individualismo é limitante e corrói fortemente qualquer relação. Aprender a comunicar “sem medir forças” e a manifestar o que realmente se valoriza, é fundamental para a construção de uma relação de confiança e de respeito entre o casal. Importa perceber se o que se faz é, de facto, o que se deseja e o que gosta, ou se as atitudes individualistas são a manifestação de uma espiral de afirmação pessoal, de uma necessidade de se defender, mostrando-se muito “senhor do seu próprio nariz”.
O sujeito individualista está demasiado centrado em si, tende a considerar que o mundo ideal é à imagem e semelhança dos seus valores, dos seus desejos, não aceita facilmente as diferenças dos outros e tende a isolar-se. Já a individualidade está associada uma maturidade suficientemente robusta para querer e escolher, assumindo as consequências dessas escolhas e respeitando as escolhas do outro. Resulta do processo de construção identitária que se torna mais evidente na altura da adolescência, pela chamada “rebeldia” (onde a necessidade de se diferenciar pode por vezes ser levada a extremos patológicos), sendo facilitada pela diversidade e qualidade das interações.
Afinal, como referiu Jung “o indivíduo não é um ser único, mas pressupõe também um relacionamento coletivo para sua existência, também o processo de individualização não leva ao isolamento, mas a um relacionamento coletivo mais intenso e mais abrangente”
Helena Coelho, psicóloga @Psicomindcare