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Mas, quando eu morrer como é que vos encontro, como?



Mas, quando eu morrer como é que vos encontro, como? Há milhares de estrelinhas, milhares e milhares…. o céu é infinito, não vos vou conseguir encontrar!

Falar sobre a morte às crianças é difícil. Muitas vezes os pais são apanhados de surpresa e, quando confrontados com estas questões que, também, são desconfortáveis para os próprios, na tentativa de fugir ou adiar o assunto, vêm as histórias de “passou a ser uma estrelinha”, “partiu para muito longe”, está a “descansar”.

Este tipo de soluções podem ser confusas para a criança, em particular para as mais pequenas que ainda não têm capacidade de se abstrair do real significado das palavras. Pode ainda aumentar a angústia de separação no seu dia-a-dia, dificultando a hora de ficar na escola, de dormir (não querem “descansar”) ou quando se separam de quem amam.

Antes de explicar a morte ao seu filho, explique-a a si próprio/a em função das suas convicções. Para ser verdadeiro para a criança deverá de ser, em primeiro lugar, verdadeiro consigo mesmo. Se não se sentir confortável em pensar introspetivamente neste tema, provavelmente terá sofrido perdas que nunca foram verdadeiramente ultrapassadas, podendo precisar de ajuda para elaborar esse luto.

Por outro lado, não fuja do tema usando a brincadeira ou a ironia. Se o seu filho faz perguntas sobre a morte estará curioso ou talvez preocupado com algo que não consegue compreender. Levar a pergunta de “ânimo leve” é ambíguo para a criança e não suprime a sua preocupação.

Preparar o seu filho para a morte é tão necessário como prepará-lo para a vida, por isso explique-lhe isso mesmo – o ciclo da vida. Todos os seres vivos, nascem, crescem e morrem biologicamente. Uma boa estratégia será usando (cultivando) uma planta: a semente é colocada na terra, germina, amadurece e morre. Explique-lhe que com as pessoas e os outros animais também é assim. Ao mesmo tempo está a mostrar a importância de cuidar, acarinhar e respeitar a vida (tal como rega, trata e cuida da planta). Seja concreto, explicando ou mostrando que todos os seres vivos um dia irão morrer e que morrer significa não fazer mais o que se faz quando se está vivo (exemplo: comer, brincar com, estar fisicamente com).

Perante a morte de um dos pais ou de familiar próximo, não esconda a sua dor da criança e encoraje-a a falar, a desenhar ou a representar de alguma forma o que está a sentir, mostrando-se compreensivo e solidário ao seu sofrimento. Acima de tudo, transmita-lhe segurança e a certeza que haverá sempre alguém para cuidar dela. Não evite que a criança se sinta triste; a tristeza faz parte do processo de sentir para ultrapassar a perda.

Por outro lado, explique-lhe que deixar de estar triste não significa que esquecemos a pessoa que amamos. Tal como o adulto, a criança precisa de interiorizar que as memórias afetivas nunca se esquecem. Esse conceito deve ser progressivamente introduzido, ao ritmo que lhe for confortável.

Mas, cada criança tem as suas particularidades e uma forma muito própria de reagir às situações dolorosas. Nas crianças com uma organização mais ansiosa ou mais depressiva, o que foi explicado anteriormente pode não ser suficiente para ultrapassar a angústia da perda. Nestes casos as alterações comportamentais, que são normais e adaptativos, prolongam-se por mais tempo e de forma acentuada. Os principais sintomas (podem aparecer isoladamente ou de forma conjunta) são: choro compulsivo ou fácil em situações que anteriormente não acontecia, acentuada agressividade, explosões de raiva intensas e recorrentes, enurese, entre outros.

Nestes casos recomenda-se que a família, e em particular a criança, receba suporte e ajuda dum técnico de psicologia para que consiga lidar com a morte que o ocorreu na realidade externa, permitindo que ocorra, também, na sua vida psíquica.

Na prática é aprender a viver com a perda, deixando de vivenciar sofrimento.

Helena Coelho, psicóloga na Psicomindcare para @UptoKids

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