top of page

Benefícios das interacções sociais em contexto educativo



As interacções sociais desempenham um papel relevante na apreensão de conhecimentos e na aquisição de competências, na socialização e na afectividade.


Aprende-se a respeitar os ritmos dos outros, a gerir as relações com os outros, assumindo cada um, em momentos diferentes, a liderança da díade. Ganha-se uma maior capacidade de verbalização ao explicar-se ao par o seu raciocínio. Aprende-se a fazer conjecturas e a testá-las, mas aprende-se também que nem sempre se tem razão e que também se cometem erros, que é necessário remodelar ou ter-se novas ideias.


Se por um lado há efeitos a nível cognitivo, da apreensão dos conhecimentos e aquisição de competências – pois os sujeitos são confrontados com outras estratégias de resolução, o que os incita a descentrarem-se das suas posições iniciais e a terem de compreender outras formas de abordar o mesmo problema, que conduzem a raciocínios diferentes dos seus, fazendo-os apreender (em conjunto) mais conhecimentos e adquirir mais competências, verificando-se mais ganhos com a participação activa na tarefa -, por outro lado, num processo interactivo nem tudo é cognitivo. Os próprios conflitos gerados pela resolução dos problemas são também sócio – cognitivos, já que pressupõem que o sujeito seja capaz de gerir a interacção, de decidir quem a lidera, de chegar a consensos, de dar oportunidade ao outro de expor os seus pontos de vista. Interagir significa também saber evitar os conflitos afectivos, aprender a respeitar os sentimentos dos pares, saber como eles reagem às nossas intervenções, ganhar resiliência. Quando não existe convergência de opinião, se discute e se apresentam os argumentos e contra-argumentos, confrontam-se diferentes pontos de vista. Logo, muito do que acontece durante as interacções permite desenvolver as competências sociais dos sujeitos – embora nem todas as tarefas desenvolvidas garantam aprendizagem; o modo como se faz pode fazer toda a diferença, assim como o funcionamento sócio-cognitivo da díade.


O trabalho de grupo será, então, um importante factor na promoção de melhores desempenhos e, ao contrário do que defendia Vygotsky, será verdade tanto para o elemento mais competente como para o menos competente (díades assimétricas), verificando-se ser também uma realidade em díades simétricas. Por exemplo, para que se promovam competências de argumentação, deve-se privilegiar a complementaridade de competências – o que acaba por contribuir para a promoção da auto-estima e para o desenvolvimento de competências.


Todavia, apesar das enormes potencialidades nos processos de aprendizagem, as interacções entre pares não são a única solução. Dados mostram que muitas crianças com incapacidades físicas, sensoriais ou intelectuais têm dificuldades nas relações interpessoais (Spence e Donovan, 1998). Assim, será igualmente importante considerar o nível de desenvolvimento da criança, a respectiva execução adequada dos procedimentos e os comportamentos específicos associados à competência social.


Do ponto de vista pedagógico, os processos implementados ao longo de todo o ano lectivo, numa sala de aula, não devem ser benéficos apenas para os alunos mais desfavorecidos. Por outro lado, deve existir a preocupação na elaboração de raciocínios argumentativos, com justificações mais fundamentadas – desde que seja proporcionada a oportunidade de elaborarem conjecturas e argumentações, durante diferentes actividades de discussão.

Uma aula é um meio ambiente regido por regras próprias – recurso, por exemplo, ao contracto didáctico (dinâmico) estabelecido entre alunos e professores - e onde se verificam várias interacções entre os diversos actores sociais, com papéis e estatutos diferentes, com as suas próprias representações sociais e experiências de vida diversificadas. É preciso saber como se chega a uma intersubjectividade comum, como se negoceiam significados. Não basta sentar duas crianças ao lado uma da outra para que se estabeleça uma boa interacção – ou se fomente uma interacção simétrica. É necessário conhecer os critérios de formação das díades que podem maximizar as potencialidades de cada um dos elementos do par, promovendo assim o seu desenvolvimento ou a aprendizagem.


Como figura de autoridade na sala de aula (assimetria), com estilo e liderança próprios, o professor influencia o grau de reforço ou de inibição de comportamentos. Se este expressar uma opinião positiva e empatia em relação a alunos com maior timidez e isolamento, ajudará a que estes se sintam mais positivos sobre a sua competência social. No entanto, tal relação destes casos com o professor (mais proteccionista) pode reforçar a percepção dos colegas de que o “protegido” é socialmente incompetente e daí pode resultar um maior afastamento, logo, podem surgir comportamentos menos adaptados e inibição do contacto social.


Quando se pretende promover as interacções sociais entre pares na sala de aula, levando os alunos a aprender, a fazer conjecturas e a defender as suas argumentações, será conveniente flexibilizar o contracto didáctico - em que as preocupações formativas se sobrepõem às avaliativas, porque há todo um percurso que deve ser tido em conta e não apenas alguns momentos pontuais.


Em suma, na sala de aula, como na sociedade em geral, precisamos de aprender a gerir de forma eficaz as nossas interacções com os pares. E para apreender um saber socialmente construído, é preciso fazer uma desconstrução desse saber e uma posterior reconstrução. E é neste duplo processo, em que o sujeito atribui significados pessoais, que as interacções sociais têm um papel fundamental.


Alice Patricio, psicóloga clínica @Psicomindcare para Uptokids

2 Comments


Shirley Marsh
Shirley Marsh
Sep 21, 2021

First time reading this thanks for sharing

Like
Replying to

Thank you, Shirley.

Like

Todos os direitos reservados. 
Os conteúdos deste website podem ser alterados sem aviso prévio.

© Copyright

NIPC: 510 263 631

  • LinkedIn Social Icon
  • Instagram Psicomindcare
  • Wix Facebook page
  • Blogger Social Icon
bottom of page