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Writer's pictureHelena Coelho

João e o quase atentado que chocou Portugal




João tem 18 anos e é estudante de informática. Natural de uma aldeia perto de Fátima é descrito pelos familiares e conhecidos como um jovem pacato, tímido, pouco dado e que “nunca levantou problemas”.

Mas, tal como qualquer um de nós, terá um lado mais sombrio.


No seu quarto em Lisboa tem um plano para um ataque violento à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), vários objetos, ao que tudo indica, para concretizar essa ação e na cama um peluche de um conhecido jogo (não violento).


Pelo seu conhecimento e talento informático não terá sido difícil entrar no mundo da dark web , uma zona da web onde se acede, através de navegadores anónimos, a áreas restritas relacionadas com atividades ilícitas e criminalidade.


Na passada semana, Portugal ficou em choque ao saber que foi evitada uma tentativa de ataque à FCUL por parte deste jovem. Quase tão surpreendente como esta notícia foram, para mim, algumas considerações feitas por prestigiados comentadores políticos, apenas dois dias após a detenção do jovem. Com pós mágicos de adivinhação consideram este ataque como uma ocorrência de base terrorista e não enquadrado em vingança pessoal.


Várias questões me surgiram:

- porquê a FCUL (escola onde o jovem estudava), ou seja, qual será a ligação emocional entre o local e a intenção de ataque em massa?

- o que poderá ter acontecido (seguramente, há mais de 2 anos), que o terá levado a planear este ataque contra a comunidade escolar, durante todo este tempo?

- qual terá sido o gatilho que o levou a concretiza-lo agora?

- seria o seu objetivo ferir o que já o feriu, ou estaremos perante uma pessoa que vivencia um deserto emocional?


Não havendo informação suficiente sobre o jovem e sobre o seu funcionamento mental será prematuro tecer qualquer tipo de comentários ou elaborar respostas. Será necessária uma avaliação cuidada, para encontrar as respostas possíveis.


Importa, no entanto, reforçar que a passagem ao ato violento (sabendo-se que a violência faz parte na nossa condição humana) é muitas vezes despoletada por uma organização disfuncional e parcas capacidades de gestão emocional, alavancadas por contextos e situações sentidas como hostis. Em alguns casos e dependendo da estrutura de personalidade a violência é auto-infligida, noutros é exteriorizada e dirigida simbolicamente. Em qualquer dos casos é uma forma perturbada de (não) lidar com a dor.


Helena Coelho, psicóloga @psicomindcare




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