Alice Patrício

Mar 10, 20153 min

O que as pessoas em sofrimento psíquico não precisam de ouvir

"Ultrapassa isso, tu és capaz!” – fácil de dizer, mas quando se rumina sobre o mesmo tempo sem fim, ouvir isto, ainda que de quem o diga venha a melhor das intenções, é percecionado pela pessoa doente como uma prova de incapacidade e esse confronto prejudica ainda mais o seu estado mental.

“Estás a desculpar-te com esta situação!” – pode até ser que a pessoa esteja a servir-se de uma situação menos favorável para se vitimizar e manipular, mas na dúvida evite dizer isto. Pode não ser o caso.

“Não estás a tentar!...” – as nossas palavras podem ter repercussão no autoconceito da pessoa em sofrimento. Muitos indivíduos em sofrimento psíquico fazem o possível por terem um bom desempenho. Logo, eles estão a tentar. Dizer-lhes ou insinuar-lhes o contrário é assimilado como um julgamento, uma arrogância de quem não está aí para apoiar. No entanto, pode sempre partilhar os seus pensamentos com a pessoa e questioná-lo sobre o que vão sentido sobre as suas tentativas para se adaptarem à situação.

“Não podes continuar assim para sempre!” – angústia de cuidador, que espera o “milagre” acontecer. Compreende-se. Quem está em sofrimento também o espera! Como dizemos em Psicologia, cada caso é um caso, cada um tem as suas crenças, as suas estratégias, o seu tempo. Não há que comparar. Responsabilizando assim a pessoa pode contribuir para aumentar a pressão emocional, o sentimento de inadequação impõe-se e o estado depressivo pode piorar.

“Tens de sair mais vezes!” – pois deve! Sabe-se hoje que o movimento ao ar livre é benéfico em termos neurais. Mas evite dizer isto como se estivesse a fazer um julgamento ao estado da pessoa ou se estivesse a verbalizar o cansaço que já se apoderou de si enquanto cuidador (o que é natural, sabemos).

“És um preguiçoso!” – assim parece quando estamos perante um caso de depressão severa ou até de esquizofrenia. Nestes casos não é um “defeito de carácter”, como tal não se chama “preguiça”; é mesmo falta de motivação, característica da própria doença, muitas vezes consciente, o que ainda gera mais luta interna ao doente. Mais importante será, na medida do possível, orientar a pessoa na crença de que pode ajudar-se a ela própria.

“És tal e qual como o teu pai / a tua mãe!” – traduz o estado de confusão, de frustração ou de raiva do cuidador ou do progenitor. Este tipo de julgamento generalizado pode piorar a autoestima da pessoa doente, além de que pode provocar comportamentos mais agressivos de ambas as partes.

“Estás a ser um miúdo!” – principalmente para alguns adolescentes que estão a lutar com problemas de comportamento ou alterações ao nível da saúde mental, não é fácil controlar as próprias emoções e condutas. Esta afirmação confrontá-los-á com a autoestima. Contudo, sabemos que os jovens testam os seus limites e os dos progenitores / cuidadores, muitas vezes até estes serem vencidos pelo cansaço, mas será melhor encontrar outra expressão que ajude a gerir melhor as emoções, que permita elaborar crenças positivas do próprio, que melhor a autoestima, que o faça acreditar que é compreendido e amado.

“És um doente!” – poucos termos existirão que rotulem a pessoa em sofrimento psicológico ou com psicopatologia como sendo “mal adaptado”, “estranho” ou “maluco”. Em nada ajuda a pessoa a compreender o seu estado, a transformar as suas emoções negativas, serve sobretudo para condená-la e magoá-la.

Enquanto cuidador, progenitor ou amigo, a PsicoMindCare pode aconselhá-lo sobre o melhor apoio que pode prestar no seu caso.

www.psicomindcare.pt

#sofrimentopsicológico #intervençãopsicológica

    100
    0